em busca de um lar

Família de refugiados venezuelanos vai trabalhar com turismo rural em Jaguari

da redação


O casal Cátia Siqueira e Juarez Gavioli juntamente com a família venezuelana
Foto: Arquivo Pessoal

Mais uma família de venezuelanos desembarcou na Região Central do Estado na última semana. Sete componentes da família Castillos foram acolhidos na Reserva do Chapadão, em Jaguari, onde vão trabalhar como caseiros. No início do mês, o Diário havia contado a história da família de Hector, que se instalou em Santa Maria.

Há nove meses, o jornalista José Castillos, 29 anos, deixou El Tigre, na Venezuela, com duas malas carregando todos os pertences que conseguiu trazer, e cruzou a fronteira com o Brasil sem saber quando, nem se, haveria um próximo reencontro com a família. José não sabia nem se viria a conhecer o filho caçula, Jeremy, hoje com oito meses, que na época em que deixou o país não havia nascido. Dormindo em barracas, com uma cama de papelão e contando com a solidariedade das pessoas para se alimentar, o venezuelano tinha só um objetivo: trazer para o Brasil a esposa grávida, Eversy, 30 anos, a filha Evelyn, 10, e os demais familiares. 

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Inicialmente, José desembarcou em Pacaraima, em Roraima. No mesmo dia, conseguiu contato com conterrâneos que estavam na cidade de Boa Vista, capital do Estado e partiu, caminhando, rumo à cidade. Percorreu 100 km - o que representa metade do trajeto - a pé, até conseguir uma carona para completar o percurso. Poucas semanas depois, José conseguiu se estabilizar e Eversy usou as últimas economias que a crise ainda não havia consumido para viajar até Roraima. Um mês depois, veio ao mundo o pequeno Jeremy, que, segundo José, nasceu brasileiro para celebrar a nova vida da família. 

- Quando a minha esposa engravidou, nós ficamos preocupados. Como iríamos criar mais um filho com a crise do país? Os meses foram passando e, no final da gravidez, começou a faltar medicamentos. Minha esposa já não se alimentava. Comíamos só uma vez por dia. Ela estava ficando desnutrida. A cada semana, víamos crianças nascerem mortas, mulheres morrerem no parto. Eu não podia deixar isso acontecer na minha família. Então, corri contra o tempo para dar condições dignas para o nascimento do meu bebê. Sendo sincero, não sabia se a vinda deles ia dar certo, cheguei a achar que nunca mais ia ver eles - revela José.


Foto: Arquivo Pessoal

Com a esposa e os filhos ao lado, ainda faltava trazer os pais para o Brasil. E foi há quatro meses que José conseguiu receber os pais Alberto e Leonides e o irmão Leovel. Os sete foram, então, morar em um abrigo da ONG Fraternidade Sem Fronteiras. Apesar de ser jornalista, para se manter no país, José começou a trabalhar em várias áreas que não tinha experiência, como pedreiro e capinador. Alberto é mestre em solda elétrica e as esposas dos venezuelanos são cozinheiras.

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- Eu não gosto de reclamar, porque, só de estar aqui, já é muito bom. Mas, em Roraima, as pessoas não querem a nossa presença, nos maltratam. Eu saia na rua, para oferecer meus serviços de mão de obra, mas os moradores viravam a cara, trancavam as portas e fechavam as janelas só de ver que estávamos na rua. Eu só queria trabalhar, mas as pessoas não se colocavam no meu lugar. Eu queria ser ajudado e também ajudar - relata o venezuelano. 

RECOMEÇO EM JAGUARI
Em uma certa noite de domingo, o casal Juarez Gavioli e Cátia Siqueira, proprietários da Reserva do Chapadão, em Jaguari, assistiam ao programa Fantástico, da Rede Globo, quando foi contada a história de vários venezuelanos que vieram para o Brasil e estavam com dificuldades de conseguir emprego. Foi então que Cátia fez uma sugestão ao marido:

- Nós sempre tivemos dificuldade de encontrar casais parceiros para morar conosco na reserva. Trabalhamos com turismo rural, recebemos muitas pessoas na propriedade, então sempre procuramos ter uma espécie de caseiro por aqui. Quando eu vi a reportagem na TV, tive muita vontade de trazer uma dessas famílias venezuelanas para morar conosco. Meu marido embarcou na ideia também, fomos pesquisar e entramos em contato com a ONG Fraternidade Sem Fronteiras. Foi tudo mais rápido do que imaginávamos, em 40 dias, depois do primeiro contato, eles já chegaram em Jaguari - destaca Cátia, que também é secretária de Desenvolvimento Social do município.

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A família chegou na cidade no dia 10 deste mês e, desde então, vive uma fase de adaptação. Conforme Juarez, um dos requisitos para recebê-los era oferecer moradia e trabalho, e isso eles encontrarão na reserva.

- Nossa ideia é que seja uma troca: nós queremos que eles se sintam acolhidos e eles também podem nos ajudar, já que recebemos muitos turistas no verão. A propriedade é ao ar livre, num lugar tranquilo, com certeza vai deixar eles seguros para começarem uma nova vida - afirma Juarez. 

Na chegada a Jaguari, a família relata ter encontrado um ambiente diferente de Boa Vista. A começar pelo frio dos primeiros dias na cidade, que contrastaram com o calor roraimense. 

- Encontrei no Rio Grande do Sul tudo o que não vi lá em Roraima. Aqui as pessoas nos compreendem e são muito humanas. Hoje não penso em voltar para a Venezuela. Quem sabe no futuro, para o meu filho conhecer o país dos familiares dele. Hoje o meu objetivo é retribuir a todo amor e carinho que recebemos em Jaguari - conta o venezuelano. 

*Colaborou Janaína Wille

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